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Jogador em Foco: Cardinal (Parte 1)

 

Apontado como um dos principais jogadores de futsal da atualidade, Cardinal é o entrevistado da rubrica “Jogador Em Foco”.

O atleta do Rio Ave FC é o melhor marcador do Campeonato Nacional com dezoito golos em sete jogos e uma das referências da Seleção Nacional.

Em entrevista ao site oficial, o pivot falou do seu percurso no futsal, com destaque para a passagem a profissional, e contou pormenores da aventura pelo campeonato russo.

PARTE 1

RAFC: O futsal foi o teu sonho de criança?
Cardinal: Na zona onde nasci e cresci existia um campo de futebol de cinco. Eu e os meus amigos estávamos lá constantemente a jogar, o que começou a tornar-se uma paixão. A este aspeto juntou-se o fato de na escola termos acesso a um campo de futsal.

RAFC: E assim colocaste de parte o futebol de onze…
Cardinal: Eu experimentei futebol de onze e ainda treinei no progresso, equipa localizada no Amial, mas percebi que era no futsal que me sentia melhor. Não me arrependo minimamente da minha opção, mas é lógico que gostaria de ter jogado futebol. O Futsal é e será sempre uma grande paixão.

RAFC: Qual o teu percurso no futsal?
Cardinal: Eu realizei toda a minha formação no Miramar, uma das melhores escolas de futsal do país. Representei ainda um clube que existia perto de minha casa, a Cafetaria do Douro, e passei de seguida pela Mocidade da Arrábida. Entretanto regressei ao Miramar de onde saí para a Fundação Jorge Antunes…

RAFC: E foi no conjunto de Vizela que te estreaste na 1.ª divisão…
Cardinal: Sim, foi pela Fundação Jorge Antunes que, no primeiro ano de sénior, disputei a primeira divisão. Segui depois para o Famalicense, Boavista FC, Alpendorada, Freixieiro, Sporting CP, CSKA Moscovo e agora o Rio Ave FC.

RAFC: Marcaste presença nas equipas jovens da Associação do Porto?
Cardinal: Nunca representei a selecção do Porto apesar de ter jogado sempre no Miramar.

RAFC: Como jogador jovem eras já um dos destaques da equipa?
Cardinal: Sempre fui um jogador em destaque, tenho esse orgulho. Como júnior já jogava na equipa sénior, na altura pelo Miramar, e apesar de ser na 2.ª divisão foi muito importante na minha carreira.

RAFC: Qual julgas ter sido o ponto crucial na tua carreira?
Cardinal: Julgo que foi a minha ida para o Freixieiro pois foi a primeira aventura como profissional e marquei o meu espaço. Ao treinar como profissional tive mais tempo para me preparar, descansar, pensar e habituar-me ao mundo do futsal de alto nível. Esta foi sem dúvida a fase que marcou a minha carreira.

RAFC: Passas então a disputar a 1.ª divisão. Foi complicada a fase de adaptação ao mundo profissional?
Cardinal: Eu nunca vejo como difícil a fase da adaptação mas sim a da manutenção. Sempre acreditei no meu trabalho e cheguei onde pretendia, mantendo a humildade, e o nível de dedicação e empenho. Eu quero sempre mais e foi assim que consegui chegar aos objectivos. Sempre gostei de treinar e fui querendo sempre mais. É importante para um jogador acreditar no seu valor e nunca desistir dos sonhos.

RAFC: Ingressar no Sporting CP permitiu-te integrar um outro universo do futsal?
Cardinal: O Sporting CP foi o clube mais organizado que representei apesar da passagem pelo Freixieiro ter um excelente. A verdade é que o Sporting é um dos grandes e tem uma massa associativa maior, isso influencia o resto. O Freixieiro de outros tempos era excelente, gostei imenso de lá jogar, mas no Sporting CP tive sem dúvida fabulosas condições de trabalho.

Cardinal

RAFC: Como surge a ligação ao CSKA Moscovo?
Cardinal: Quando estive no europeu na Hungria, o presidente do CSKA assistiu aos meus jogos e recebi uma primeira abordagem. Sinceramente nunca pensei que fosse verdade.

RAFC: Um europeu no qual estiveste em destaque…
Cardinal: Sim, é verdade. Ajudei imenso a nossa equipa e apontei cinco golos. Quando estava no Algarve em estágio de pré-época pelo Sporting reuni-me com o presidente do CSKA Moscovo. Em Novembro fechamos o contrato e rumei à Rússia.

RAFC: Uma aventura com desafios complicados…
Cardinal: Deixei a minha família em Portugal, nomeadamente os meus dois filhos. Enfrentar uma cultura diferente, habituar-me ao frio, não foi fácil. Eu raramente saía de casa, apenas ia ao shopping de vez em quando. Praticamente não se via ninguém nas ruas. E claro, para agravar o russo é uma língua complicada de aprender.

RAFC: Tiveste companhia de mais jogadores portugueses?
Cardinal: A nossa equipa tinha jogadores portugueses e brasileiros, o que facilitou a estadia na Rússia. Penso, acima de tudo, que estas mudanças fazem parte da carreira de um atleta e só tenho de agradecer pela oportunidade que tive.

RAFC: É de concluir que falas russo…
Cardinal: (risos) Nem por isso. Aprendi apenas algumas palavras que tive de conhecer para ser mais fácil intervir no jogo como caso de “direita”, “esquerda”, “pressionar”, os números das linhas, as cores, e pouco mais. (risos)

RAFC: Como geriste emocionalmente a distância da família?
Cardinal: É muito difícil a gestão emocional e tenho de confessar que sofri muito com a distância. Com as novas tecnologias foi possível atenuar a tristeza e tive o prazer de vir a Portugal praticamente todos os meses para representar a selecção nacional, oportunidades para matar saudades.

RAFC: Em algum momento te arrependeste da decisão de jogar na Rússia?
Cardinal: Nunca me arrependo do que faço, mas sim do que poderia fazer e não fiz. Foi uma experiência fabulosa para mim e aconselho os talentos jovens a não perder a oportunidade de experimentar um campeonato que considero um dos melhores do mundo. Espero lá voltar um dia.

(Continua)