Após uma aventura pelo campeonato russo de futsal, Cardinal regressou à prova portuguesa com a camisola do Rio Ave FC, impondo de imediato o seu valor em Portugal.
Na segunda parte da rubrica “Jogador em Foco”, o pivot fala da sua ligação à seleção nacional, avalia os momentos vividos ao serviço do nosso emblema e confidencia pormenores da vida pessoal.
PARTE 2
RAFC: Um lugar na Selecção Nacional foi a grande ambição da carreira?
Cardinal: É um foco de qualquer jogador português e julgo que todos sonham com essa oportunidade. Quando enverguei pela primeira vez as cores do meu país foi pelo meu valor, mereci ser chamado e nunca mais falhei uma convocatória. É um orgulho impossível de explicar.
RAFC: Recordas-te da tua estreia com a camisola das Quinas?
Cardinal: Sim. Foi em Março de 2008, estava no Freixieiro. A Selecção Nacional jogou contra o Irão e desde aí que tenho vindo a ser sempre convocado.
RAFC: Qual o ponto mais alto que viveste pela Seleção Nacional?
Cardinal: Foi com orgulho que disputei a final do Campeonato da Europa. Infelizmente não conseguimos ganhar a final mas fizemos excelentes prestações. A selecção está muito bem orientada e acredito que estamos perto de conseguir algo de importante para o país que já merece.
RAFC: A tua vinda para o Rio Ave FC gerou surpresa… O que motivou a tua resposta positiva?
Cardinal: Nunca me importei com o que os outros pensam. O que teve importância para mim foi a conversa com os responsáveis do clube. Apresentaram-me um projecto de futuro e, por isso, decidi pelo sim. Estou cá há uns meses e percebi que se trata de um clube muito organizado e que não falta com nada aos jogadores.
RAFC: E por isso satisfeito com a decisão…
Cardinal: Sim,muito. O Rio Ave FC surpreendeu-me pela positiva. Nunca pensei que fosse um clube tão organizado. Estou muito feliz. Conheço muitos jogadores que querem jogar no Rio Ave FC porque sabem o que os espera. Vejo a minha vinda para o Rio Ave FC como natural e se aceitei a proposta é porque me deram as condições necessárias. Temos um excelente grupo e isso vê-se pelo campeonato que estamos a fazer. Espero que os dirigentes e os adeptos possam ver a nossa equipa chegar longe. Por exemplo seria excelente chegar às meias-finais pois nas duas épocas em que o Rio Ave FC chegou à primeira nunca esteve num posto semelhante ao que ocupamos actualmente.
RAFC: Um plantel internacional…
Cardinal: Isso mesmo. Estamos a falar de uma equipa com dois jogadores atualmente internacionais mas tem sete jogadores que já estiveram na selecção. Deve ser um motivo de orgulho para a cidade e para o clube. É bom ver equipas que apostam em jogadores portugueses.
RAFC: Como tem sido trabalhar com o técnico Raúl Moreira?
Cardinal: Tem sido bom. É um treinador jovem e que quer ganhar sempre. Gosta imenso do que faz e vive o futsal 24 horas por dias. Falamos muito sobre futsal e percebo que ele quer aprender sempre mais. Com uma excelente margem de progressão, acredito que ele vai ser um grande técnico. Obviamente que eu e os meus colegas de equipa vamos ajudá-lo a chegar onde merece.
RAFC: Qual o ambiente que se vive no seio do plantel?
Cardinal: Somos um grupo no qual todos se dão bem, estamos sempre bem-dispostos e disponíveis para trabalhar. Já integrei inúmeros planteis e este é diferente. Quando se perde, a tendência do grupo é criar algumas incompatibilidades, mas isso não acontece na nossa equipa. Quando perdemos, perdemos todos. Quando ganhamos, ganhamos todos. Estamos decididos a defender o clube e só isso nos interessa. O Rio Ave FC está no bom caminho, tal como nós jogadores.
RAFC: Tens um currículo de valor. O que te falta ainda conquistar?
Cardinal: A nível nacional tive o prazer de conquistar tudo: Campeonato Nacional, Taça de Portugal e Supertaça. Já recebi igualmente o prémio de melhor marcador e melhor jogador do campeonato. Mas quero ganhar mais troféus. Ganhar um título pela Seleção Nacional, em europeu ou mundial, seria a cereja no topo do bolo. Portugal nunca ganhou um título e todos desejamos isso.
RAFC: Vives um momento diferente no futsal?
Cardinal: Eu vivo agora o futsal como sempre vivi. Sou sempre profissional independentemente do clube que represento. Tenho sempre a mesma preocupação em descansar, alimentar-me bem e reduzir os riscos de me lesionar.
RAFC: Mas jogar pelo Rio Ave FC tem sido um desafio muito próprio nesta fase da tua carreira…
Cardinal: Às vezes dizem que sou maluco porque estou sempre a sublinhar que temos equipa para lutar com Benfica e Sporting. Dizem que sou maluco mas não sou. Conheço bem o nosso plantel e até onde podemos chegar. Conheço bem os nossos adversários e sei que temos capacidades para lutar por mais. Sei das minhas capacidades e das dos meus companheiros de equipa.
RAFC: Como te vês dentro da quadra?
Cardinal: Todos sabem que a minha principal qualidade é fazer golos. É um dom que deus me deu, faço golos com facilidade. Mesmo quando estou a jogar mal acabo por marcar. O meu principal defeito é não gostar de perder. Mesmo nos treinos fico chateado e os meus colegas até gozam comigo (risos). Sou um vencedor na vida e no desporto.
RAFC: Reconheces a rebeldia que muitas vezes te é atribuída?
Cardinal: Julgo que há jogadores que dentro do pavilhão se transformam e eu sou um desses. Sou muito rebelde em jogo e como os adversários sabem como sou provocam-me. Muitas vezes provocam-me com o intuito de ser expulso pois sabem que sou uma mais-valia para a equipa.
RAFC: Algo que certamente gostarias de mudar…
Cardinal: Claro que sim. A este nível tenho muito a aprender, concentrar-me apenas no jogo e ignorar provocações. Julgo que este é o meu defeito pois fora do jogo não sou rebelde. Vejo-me como uma boa pessoa que não guarda rancor. Sou tranquilo quando não estou na quadra.
RAFC: A nível pessoal tiveste alguma preocupação com os estudos?
Cardinal: Passei para o sétimo ano mas não o completei. Ainda fui tirar um curso mas abandonei a meio. Apenas pensava em futsal. Felizmente tive o prazer de ser profissional. Esqueci os estudos mas não o devia ter feito. Quero deixar uma palavra aos jovens para que não deixem de estudar, é possível conciliar ambos. Agora tenho outras metas mas, no futuro, quem sabe não retomo os estudos.
RAFC: Tens mais casos de desportistas na família?
Cardinal: O meu falecido pai foi jogador de futebol de onze e passou por clubes como o FC Porto, o Marítimo e Penafiel. Os meus irmãos também jogaram futebol de onze. Agora o meu filho Tiago também anda numa escola de futebol.
RAFC: És um pai que pressiona muito o filho no futebol?
Cardinal: (risos) Não, nada disso. Não crio qualquer pressão sobre ele. Primeiro quero que ele seja bom aluno e só depois vem o futebol. Felizmente o meu filho tem dado o gosto de ser um aluno bem comportado e com bom aproveitamento. Ele vai ser o que quiser, não o obrigo a nada.
RAFC: O que gostas de fazer nos tempos livres?
Cardinal: Eu gosto de estar com os meus filhos e com a minha namorada. Aproveito também para jogar às cartas com os amigos, o que tem sido mais frequente com este tempo de chuva (risos).
RAFC: Que mensagem gostarias de deixar aos adeptos do Rio Ave FC?
Cardinal: Eu queria pedir-lhes que compareçam mais nos jogos. Temos uma boa equipa, estamos a fazer um grande campeonato e damos espetáculo, ou seja, vale a pena assistir aos nossos jogos. Os adeptos são a nossa grande força e precisamos deles para ganhar sempre para levar o nome do Rio Ave FC ao mais alto nível.
Embarque Rumo À Vitória!