Finais das taças, a epopeia europeia, recordes de classificação e pontuação no campeonato, potenciação de jogadores e treinadores. Cabe tudo isto e muito mais na década de ouro da história do Rio Ave Futebol Clube. A afirmação da dimensão nacional de um Clube estruturado e projectado para vencer.
Poucas dúvidas subsistem, por certo, quanto àquela que será a década de ouro do Rio Ave FC. O Clube tem vivido, entre 2010 e 2020, os seus melhores momentos, não só pela qualidade dos mesmos mas também pela quantidade em que se sucederam.
O passado foi feito de grandes vitórias, mas os tempos mais recentes elevaram a fasquia. Após anos turbulentos, que com sacrifício ultrapassámos, a Direcção de António da Silva Campos estruturou o Rio Ave FC com um projecto que permitisse colher frutos a médio/longo prazo. E eles apareceram, rapidamente.
Depois das meias-finais da Taça de Portugal em 2010, e dos ‘quartos’ em 2011, a época 12/13 seria a primeira de várias temporadas de notável crescimento e afirmação, além de surpreendentes méritos.
2013, Nuno Espírito Santo treinava um Rio Ave FC cheio de ambição, determinado a quebrar barreiras e atingir patamares nunca antes alcançados, com um plantel onde conviviam nomes como os de Jan Oblak e Ederson Moraes, hoje ambos guarda-redes reconhecidos mundialmente. Ao 6º lugar no campeonato, os bravos defensores da caravela somaram umas meias-finais na Taça de Portugal, e estava dado o mote para uma época verdadeiramente épica no ano seguinte.
Com efeito, 13/14 não sairá tão depressa da cabeça dos rioavistas. Em poucos dias, os vilacondenses viajaram a Leiria e ao Jamor para a disputa das finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal, respectivamente. Precisamente 40 anos depois da estreia do Rio Ave FC no mítico palco do Estádio Nacional. A equipa de Nuno Espírito Santos enfrentou, nas duas ocasiões, o mesmo adversário, o então campeão nacional SL Benfica, de Jorge Jesus. As derrotas, por 1-0 e 2-0, não assombrariam durante muito tempo, porém, os vilacondenses, já que estava garantido um feito inédito: o Rio Ave FC ia disputar, pela primeira vez em toda a sua história, uma competição europeia: a Liga Europa!
O Rio Ave FC era agora olhado com ainda mais respeito dentro de portas, afirmando-se como um Clube financeiramente estável, estruturado, projectado para um futuro ainda mais brilhante. Mas seria possível fazer ainda melhor? Sim!
Em 2014/2015, e já com Pedro Martins ao leme, avizinhava-se epopeia europeia com a estreia vitoriosa em Gotemburgo na 3ª Pré-Eliminatória da Liga Europa. O empate sem golos em Vila do Conde garantia a presença no Play-Off final de apuramento à Fase de Grupos. O Rio Ave FC não podia perder a oportunidade! No sorteio, novo adversário sueco pela frente, o Elfsborg. A derrota por 2-1 na Suécia trazia as decisões para Portugal e a equipa rioavista sabia que só precisava de um golo para fazer história. O Estádio do Rio Ave FC como poucas vezes visto, tentava empurrar a equipa para a vitória mas o 0-0 correu teimosamente até ao período de compensação.
O momento alto, quiçá, da história do Rio Ave FC até então deu-se aos 92 minutos. O guarda-redes Cássio pontapeou na frente, um defesa contrário desviou de cabeça e isolou Esmael Gonçalves, o novo herói dos Arcos, que com um toque subtil bateu o guardião adversário. Os nervos e as unhas ruídas deram lugar aos saltos e gritos de golo. O Rio Ave FC estava na Fase de Grupos da Liga Europa e Vila do Conde não cabia em si de tamanha alegria. Portugal tinha um novo estandarte fora das fronteiras.
Dentro de portas, o Rio Ave FC disputou a Supertaça, que só perdeu nos penáltis para o SL Benfica, e ainda conseguiu umas meias-finais da Taça de Portugal. Na Liga Europa, ficou pelo caminho no Grupo J, onde defrontou Dinamo Kiev, da Ucrânia, Aalborg, da Dinamarca e o Steaua Bucareste, da Roménia).
2015/2016, ainda com Pedro Martins, voltou a ser uma época de sorrisos, com o Rio Ave FC a garantir novo apuramento para a Liga Europa fruto de um seguro 6º lugar no campeonato, e ainda voltou a estar às portas do Jamor, ao chegar pelo segundo ano consecutivo às meias-finais da prova-rainha.
Seria, agora, possível repetir 14/15 e chegar à Fase de Grupos novamente? A árdua tarefa estava nas mãos de Nuno Capucho e da sua equipa, em 16/17. Uma 3ª Pré-Eliminatória difícil frente ao Slavia de Praga, da República Checa, deitou por terra o sonho, ainda que os rioavistas nem sequer tivessem perdido algum dos embates. Um ‘nulo’ em casa dos checos e o empate a um golo em casa traíram os vilacondenses.
Em Novembro, Luís Castro substituiu Capucho e o efeito na tabela foi imediato. O galope do Rio Ave FC só parou com um 7º lugar na classificação, mas novo apuramento para a Liga Europa ficou a um ponto de distância.
Miguel Cardoso seria agora o homem do leme para continuar a levar a nau a bom porto nesta viagem triunfal pelos mares nacionais e europeus. E o efeito foi imediato. Uma só temporada de Cardoso no Rio Ave FC ficou marcada para sempre. O Clube garantiu o 5º lugar no campeonato, naquela que é, a par de 81/82, a melhor classificação de sempre, mas alcançou o melhor registo pontual da história. 51 pontos. Tudo abrilhantado com a terceira qualificação da década para a Liga Europa.
Em 2018/2019, e com José Gomes a comandar (Daniel Ramos terminou a época após Gomes aceder ao convite do Reading, de Inglaterra), o Rio Ave FC disputou a 2ª Pré-Eliminatória da segunda maior competição de clubes na Europa. Uma disputadíssima eliminatória frente aos polacos do Jagiellonia terminou com a vantagem de um golo para os estrangeiros (5-4). Caía por terra a vontade férrea dos rioavistas em chegarem à fase de grupos da prova, mas vincava-se uma ideia que já não se pode negar.
O Rio Ave FC tinha, indubitavelmente, dimensão nacional. Em Portugal, desde 2015 que o Clube termina sempre entre os 7 primeiros da classificação. A presença regular nas grandes decisões e as três participações europeias nesta última década permitem comprovar o respeito com que é hoje olhado um Clube projectado para vencer.
Como viveiro de talentos, seja de jogadores ou até mesmo de treinadores, o Rio Ave FC demonstra a excelência do trabalho de qualidade que tem sido estruturado. Nomes como os de Ederson Moraes, Marcelo, Del Valle, Hassan, Fabinho, Krovinovic, Pelé, Léo Jardim, Vinícius, Jan Oblak, Gil Dias, Ruben Semedo, Galeno, entre outros, ou até mesmo, no campo dos treinadores, de Nuno Espírito Santo, Pedro Martins, Luís Castro, Miguel Cardoso e José Gomes, ficarão para sempre na história desta década de ouro mas, sobretudo, da história de uma caravela que se habituou a conquistar.
Os anos 20 deste novo milénio são o capítulo que se segue.
E os sinais de que novos e ainda maiores feitos se conseguirá são promissores.