Portugal uniu-se.
A dada altura, enquanto o Rio Ave FC lutava pela vitória diante do heptacampeão europeu AC Milan, esse mesmo, a Nação valente e imortal parou para sofrer e torcer pelos rioavistas.
Sentiu-se essa união no durante e no depois, numa corrente de força só vista nas cruzadas da Selecção Nacional em competições internacionais.
O Rio Ave FC foi, na malograda noite desta quinta-feira, 1 de Outubro, a bandeira de Portugal, diante do todo poderoso colosso italiano que, em Vila do Conde, tremeu durante quase três horas de uma intensa luta pelo acesso à fase de grupos da Liga Europa.
Mário Silva preparou a equipa para um jogo desafiante e o primeiro tempo foi bastante demonstrativo da coesão do grupo, na forma como susteve a pressão italiana e como foi evitando o perigo para a baliza de Kieszek.
Ao intervalo, o 0-0 era um resultado ajustado à ausência de grandes oportunidades de parte a parte, ficando na retina apenas um remate de Carlos Mané para defesa de Donnarumma.
O início da segunda parte não traz saudades aos rioavistas. Logo ao sexto minuto da etapa complementar, na sequência de um pontapé de canto, Saelemaekers recebeu uma bola à entrada da área e rematou forte, encostado ao poste, não dando hipótese de defesa a Kieszek.
O AC Milan adiantava-se no marcador mas tal não teve efeito desmoralizador na equipa de Mário Silva.
Na verdade, parece ter aberto espaço a uma reacção forte, determinada, ousada, que lançou o Rio Ave FC para cima do ‘gigante’ sem temores e reduzindo todas as diferenças que, de véspera, se falavam. Gigante a partir daí, só mesmo a atitude rioavista e a bravura com que, aos 72 minutos, delineou a jogada que viria a dar o empate. Carlos Mané e Lucas Piazon, pela direita, envolveram-se com mestria por entre a defesa italiana e o brasileiro deu o toque final para um míssil disparado pelo recém-entrado Francisco Geraldes. O ‘gigante’ Donnarumma caía prostrado e impotente, o Rio Ave FC empatava diante do AC Milan.
Prolongamento!
Os rioavistas sentiam novamente Istambul, e a forma como eliminaram o Besiktas. A noite parecia destinada a novos heróis. E que melhor forma de escrever história do que, logo no primeiro minuto do tempo extra, pôr Gelson Dala a correr que nem uma seta e vê-lo bater o guardião italiano sem contemplações. Momento épico em Vila do Conde. Festa enorme de quem se via na frente do marcador diante de um dos maiores clubes do Mundo. Superação máxima!
Mas ontem ficou tácito porque é o número 13 considerado por muitos um número de azar.
Faltavam exactamente 13 segundos para o final do prolongamento quando Toni Borevkovic desvia com a mão uma bola na grande área. Penálti e expulsão do central. Kieszek ainda adivinhou o lado mas estava feito o empate. Íamos novamente a grandes penalidades.
Poupamos a todos a recordação da ‘lotaria’ do castigo máximo. Foram 24 grandes penalidades ao todo. Venceu o AC Milan por 9-8.
O orgulho que temos em toda esta equipa, em toda esta família, é enorme! Proporcional ao carinho, apoio e força que recebemos de milhares de pessoas e instituições, orgulhosas pela bravura de um Clube que uniu Portugal durante aquelas três horas na dura, épica e memorável batalha de Vila do Conde.
O Rio Ave FC caiu na Liga Europa, mas caiu de pé, vergando um AC Milan durante muitos momentos, obrigando o ‘gigante’ a tremer face ao temor da derrota, levando as decisões à última das últimas consequências. A sorte, ou eficácia dirão alguns, esteve do lado dos italianos. Haverá outra batalhas, onde cairá para nós!
Jogo no Estádio do Rio Ave FC, em Vila do Conde
Árbitro: Jesús Manzano
Ao intervalo: 0-0
No final do tempo regulamentar: 1-1
No final do prolongamento: 2-2
Marcadores: Saelemaekers (51), Francisco Geraldes (72), Gelson Dala (91) e Çalhanoglou (120).
Rio Ave FC 2 (8)
Kieszek, Ivo Pinto, Toni Borevkovic, Santos, Nelson Monte, Filipe Augusto, Tarantini, Carlos Mané, Piazon, Diego Lopes e Bruno Moreira
Substituições: Diego Lopes por Francisco Geraldes (66), Tarantini por Jambor (75), Bruno Moreira por Gelson Dala (85) e Carlos Mané por Gabrielzinho (109).
Suplentes não utilizados: Léo Vieira, Pedro Amaral e André Pereira.
Treinador: Mário Silva
AC Milan 2 (9)
Donnarumma, Calabria, Kjaer, Gabbia, Hernandez, Bennacer, Çalhanoglu, Kessié, Castillejo, Saelemaekers e Maldini
Substituições: Castillejo por Diaz (Intervalo), Maldini por Rafael Leão (67), Saelemaekers por Colombo (95) e Kessié por Tonali (106).
Suplentes não utilizados: Tatarusanu, Krunic e Laxalt.
Treinador: Stefano Pioli