Fque a conhecer agora a segunda parte da entrevista com o guarda-redes Vitor Hugo.
RAFC: O Benfica colocou-te nas fases principais do campeonato e até a competir a nível internacional. Quais são as principais memórias que guardas?
Vitor Hugo: Tenho de admitir que os adeptos encarnados são maravilhosos e é o apoio deles que mais recordo. O ambiente nos jogos em casa, e até fora, faziam-nos sentir capazes de vencer tudo. Sinceramente, na minha opinião, são do melhor que há e depois guardo a amizade do grupo de trabalho que era fabuloso. Só estando lá dentro é que se sabe.
RAFC: Tu defendeste os penaltis numa das fases principais do Benfica para o campeonato. O que pensa um guarda-redes nesse momento?
Vitor Hugo: Pessoalmente, penso em tentar adivinhar o lado para o qual vai sair o remate e esperar que a bola bata em mim, basicamente é isso. E pensar que igualmente na possibilidade do jogador adversário falhar a marcação do penalti (risos).
RAFC: Achas que há uma pressão adicional para o guarda-redes ou é igual para o jogador que bate a grande penalidade?
Vitor Hugo: Eu acho que há mais pressão para o jogador porque o guarda-redes se defender é muito bom, mas se o jogador falhar… Ele é que tem obrigação de marcar. Claro que o guarda-redes também tem a obrigação de defender, é óbvio, e em tudo se assemelha a um penalty do futebol de onze. Podem consultar as percentagens de eficácia e é muito mais o jogador que marca do que o guarda-redes que defende.
RAFC: Pela reacção dos colegas percebe-se que assumiste um papel preponderante com a defesa dos penaltis. O que sentiste depois quando tiveste a real noção do feito?
Vitor Hugo: Primeiro senti uma alegria muito grande porque deu-nos a possibilidade de discutir o último jogo, que era o jogo do título, em casa. Pessoalmente foi muito bom para mim porque tive uma época complicada com algumas lesões, uma delas bastante complicada, e foi um alívio completo quando fomos campeões.
RAFC: E em termos familiares Vítor? A tua família acompanhou-te para Lisboa?
Vitor Hugo: Na altura em que eu fui para o Benfica, a minha mulher estava grávida e então decidimos, no início, que era melhor a nossa filha nascer cá e depois ela iria comigo para Lisboa. Na verdade acabei por lá estar dois anos sozinhos. Sempre que possível estávamos todos juntos pois eu vinha ao Norte com frequência.
RAFC: Apesar de ser próximo, como é que se lida com a distância física da família?
Vitor Hugo: É muito complicado, acreditem. Quando vais para o treino e estás lá com os colegas não sentes muito. Sentes mais quando chegas a casa, não tens ninguém, não tens a tua mulher para falar, não tens a filha para brincar…custa estar nesta situação, mas a vida de profissional do desporto tem destas condicionantes.
RAFC: E a vinda para o Rio Ave FC? O que te motivou a dizer um sim na proposta?
Vitor Hugo: O que motivou foi o projecto que a Direção e da equipa técnica me apresentaram. O Rio Ave FC nunca tinha conseguido se manter na primeira divisão e o treinador Raúl Moreira apresentou-me o projecto de querer que o Clube se mantivesse na primeira divisão. Já conhecia o Raúl Moreira, ele esteve comigo na Fundação Jorge Antunes, e achei o projecto bastante aliciante. Resolvi aceitar e graças a Deus já estamos com a manutenção garantida.
RAFC: Com estes meses de trabalho, qual é a tua opinião acerca do Rio Ave?
Vitor Hugo: Eu sinceramente não entendo como é que o Rio Ave FC nas outras épocas não conseguiu se manter na 1ª Divisão porque tem condições e tem uma estrutura fantástica. O que passou no fundo não interessa mas o Rio Ave FC tem tudo para ser um clube de topo na modalidade.
RAFC: A equipa que integras está num fantástico terceiro lugar no campeonato. Quais são os segredos do grupo?
Vitor Hugo: O segredo é pensar jogo a jogo. Não pensamos para a frente, pensamos naquele jogo e ganhar. Depois unimo-nos todos em prol desse objectivo.
RAFC: E apesar desse pensar jogo a jogo, até onde achas que pode chegar este Rio Ave? O que os jogadores querem agora que estamos no topo da tabela?
Vitor Hugo: (risos) Queremos ganhar agora ao Benfica, esse é o principal objectivo.
RAFC: Como vais encarar o regresso ao pavilhão do Benfica? O que é que esperas deste jogo? Vai ter um sentimento especial?
Vitor Hugo: Claro. Vou regressar a um pavilhão onde fui muito feliz. Espero muito trabalho e depois vai ser mais um jogo. Vou encarar isto como mais um jogo. Se me receberem bem, óptimo, se me receberem mal é-me indiferente.
RAFC: Mas esperas ser bem recebido? Foste um jogador que acabou por marcar o Benfica…
Vitor Hugo: Sim, vou contar com ser bem recebido. Não posso agradar a gregos nem a troianos, por isso não sei. Alguns podem-me receber bem mas pode haver outros que não gostem de mim.
RAFC: E em termos de selecção nacional, recorda quais foram as principais experiências na selecção nacional…
Vitor Hugo: Os dois apuramentos que tivemos em Viana e depois na Polónia. São momentos que nunca esquecemos.
RAFC: E fica agora a vontade de regressar?
Vitor Hugo: Claro. A vontade mantém-se sempre, são as cores do nosso país. Eu trabalho diariamente para jogar ao sábado mas também para sempre que haja convocatória possa estar presente.
RAFC: Esta boa temporada do Rio Ave FC pode ser uma forma de regressares à selecção?
Vitor Hugo: Sim, eu acho que sim. Acho que pode ser por aí até porque acredito que tenha sido o que aconteceu com Fábio Lima. Vamos ver, a mim cabe-me trabalhar para criar a oportunidade.
RAFC: E em termos pessoais, como foi o teu percurso académico?
Vitor Hugo: Eu deixei de estudar cedo. Não acabei o 10º ano, ou seja, passei para o 10º mas deixei a meio e comecei a trabalhar. Na altura já jogava, mas decidi deixar os estudos e optar por ganhar algum dinheiro.
RAFC: E agora, olhando um bocado para trás não te arrependeste?
Vitor Hugo: Sinto que talvez poderia ter conjugado as duas coisas. Podia ter estudado e trabalhado, mas foi a escolha que fiz e está decidido.
RAFC: E em termos familiares? Qual foi o impacto do regresso ao norte?
Vitor Hugo: Foi bom, claro. Como disse anteriormente, é difícil chegar a casa e não ter o apoio da família quando as coisas não correm bem, às vezes quando perdemos é bom chegar a casa e desabafar.
RAFC: E o que é que tu gostas de fazer nos teus tempos livres?
Vitor Hugo: Passo muito tempo a brincar com a minha filha, sou muito caseiro. Não gosto muito de sair. Vou ao cinema às vezes, mas normalmente estou com a minha família.
RAFC: Para terminar, que mensagem queres deixar aos adeptos do Rio Ave?
Vitor Hugo: Que nos apoiem como têm vindo a apoiar nestes últimos jogos que têm sido bastante importantes. Nas fases que vão começar (play-off), o apoio deles vai ser muito importante para nós.