Rio Ave de Salto Alto: Alexandrina Cruz

RAFC – Quem é a Vice-Presidente para a área Administrativa e Financeira?

 

AC – Tenho 36 anos, sou casada, tenho um filho e sou licenciada em Gestão. Em termos profissionais exerço funções no Departamento Administrativo e Financeiro do Município de Vila do Conde e tenho desenvolvido nos últimos anos algumas atividades, a nível individual, também no setor financeiro.

Entrei no Rio Ave em Junho de 2004, na Presidencia do Engenheiro Paulo Carvalho, na altura como Tesoureira. Depois passei a Vice-Presidente para a área Administrativa e Financeira, posição que mantenho até hoje. Entretanto com a criação da SDUQ integrei também a sua gerência.

 

RAFC – Como é que surge a ligação ao desporto e ao futebol em particular?

 

AC – A ligação ao futebol vem de há muito tempo, sou sócia desde criança, por isso, os assuntos Rio Ave e futebol eram temas frequentes em casa. Gosto muito de futebol e por isso, na altura, quando me foi feito o convite, aceitei de imediato. Poderia parecer descabido para uma mulher, mas para mim não foi. Tinha 26 anos e o meu receio não era o facto de ser mulher, mas sim a forma como iria chegar até aqui, como iria ser a minha relação com o mundo do futebol, dominado maioritariamente por homens. Felizmente tem sido uma experiência muito enriquecedora.

 

RAFC – Como foi a adaptação ao longo destes 10 anos?

 

AC – Muito boa, tem sido um período extraordinário. Eu digo muitas vezes que o Rio Ave me ensinou e continua a ensinar muita coisa, sem dúvida que é um privilégio fazer parte deste Clube.

 

RAFC – E como tem sido a entrada de outras mulheres?

 

AC – Depois de mim, entraram outras mulheres e todas elas, nas mais diversas áreas, deram e continuam a dar um grande contributo ao Clube. Mas não vejo a entrada de mulheres como um facto que deva ser destacado, somos mais uma peça que quer trabalhar e contribuir para o sucesso do Clube. Mas eu não fui a primeira mulher na Direção do Rio Ave, antes de mim, sei que a Dra. Laura Garrido fez parte.

 

RAFC – E o Rio Ave tem-se tornado um clube mais feminino?

 

AC – Não sinto muito isso. Da mesma forma que não senti grande diferença pelo facto de eu ser uma mulher na área financeira de um Clube. Obviamente tenho uma opinião diferente dos meus colegas homens em alguns aspetos, mas de maneira geral as ideias de uns e de outros encaixam-se e julgo que as opções tomadas têm sido as corretas.

 

RAFC – Ao longo destes 10 anos passaram-se muitos episódios, quais foram os momentos mais marcantes?

 

AC – Dez anos é muito tempo e poderia destacar alguns episódios, a maioria deles positivos, mas inevitavelmente alguns destes episódios estão associados a resultados desportivos, por isso, talvez escolha como o momento mais marcante a subida em Santa Maria da Feira. Vínhamos de duas épocas em que não subimos por muito pouco e por consegui-lo, da forma como foi, no último jogo, com um golo do Evandro nos instantes finais da partida.

 

RAFC – Voltando ao Clube, o que mudou na gestão administrativa e financeira desde que assumiu a Vice-Presidência desta área?

 

AC – A realidade do Rio Ave e do futebol é hoje muito diferente da realidade que encontrei há dez anos atrás, fruto das mudanças que fomos impondo ao nível administrativo e financeiro, mas também fruto das exigências que nos foram impostas pelas mais diversas entidades às quais temos que responder.

A estrutura humana dos serviços administrativos e financeiros do Rio Ave é uma estrutura muito reduzida, mas acabamos por ter grandes resultados com tão poucos recursos; exemplo disso é o exigente e burocrático processo de candidatura às competições da UEFA ao qual respondemos positivamente.

Acredito que administrativamente melhoramos bastante, apesar de ainda continuarmos a ter que rever alguns aspetos.

A nível financeiro, essa melhoria é inequívoca, vamos apresentar o quinto resultado positivo consecutivo. Obviamente, que os resultados financeiros andam lado a lado com a parte desportiva, e aqui também os resultados são bem visíveis, é a sexta época consecutiva na 1ª liga, o que nos permite garantir a receita que advém das transmissões televisivas e que significa cerca de 50% do nosso orçamento e, claro, o encaixe financeiro que temos vindo a realizar com as transferências de jogadores. Ao nível da formação o trabalho que tem sido realizado é um trabalho com muita qualidade e que tem vindo a dar frutos com claros resultados na área financeira.

Depois não podemos dissociar todos estes factos da figura do Presidente Campos que é um homem muito dinâmico e empreendedor e isto reflete-se em toda a estrutura. São cinco anos com resultados positivos e sempre na primeira liga. São marcos da presidência dele, fruto do trabalho de uma equipa, mas claramente associados a ele.

 

RAFC – Falando em presidência, é possível uma mulher, ser presidente do Rio Ave?

 

Sim, claro. Não eu, pois não está nas minhas pretensões, mas acredito que é possível. Até porque hoje em dia, com a estrutura que os clubes têm, o Presidente não tem de ser um especialista em futebol, ou teria de o ser em todas as áreas do clube, desde a formação, à área administrativa e financeira, à área médica, entre todas as outras, e com isto não quero dizer que as mulheres não percebam de futebol. O Presidente tem, sim, de ser uma pessoa com grandes capacidades de liderança, que tenha a capacidade de tomar as melhores decisões no tempo certo e que saiba rodear-se das melhores pessoas nas mais variadas áreas.

 

RAFC – Onde vê o Rio Ave daqui a mais 10 anos?

 

Daqui a 10 anos não sei, o que eu vejo é um clube que nos últimos anos tem vindo a consolidar-se e a ganhar estabilidade desportiva e financeira, e espero que continuemos neste caminho. No passado, o nosso primeiro objetivo era não descer de divisão, o que muitas vezes infelizmente aconteceu. Hoje, não é isso que se passa, e isso é fruto de um trabalho diário, de boas decisões e de boas escolhas aos mais variados níveis, mas sobretudo ao nível da escolha da equipa técnica e do plantel.

Hoje em dia, temos uma equipa técnica que, na minha opinião, tem muita qualidade e, além de ter muita qualidade, é uma equipa que tem uma capacidade de trabalho muito grande. Costumo dizer que não há pessoas insubstituíveis, mas há pessoas difíceis de substituir.

Depois passamos a ter um Diretor-Geral, que claramente contribuiu para os resultados que temos vindo a obter. A opção do Presidente Campos de contratar alguém com experiência e qualidade que reporte a todas as áreas do Clube e que se dedique ao Clube a tempo inteiro foi claramente uma opção vencedora.

 

Agora, se daqui a 10 anos ainda estarei no Clube, não sei, para já sinto-me bem, mas acho que não podemos estar agarrados às coisas e aos cargos, devemos perceber se somos uma mais valia para a estrutura, se nos identificamos com o rumo que as coisas estão a tomar e depois decidir. Tenho contudo uma certeza, daqui a 10 anos continuarei a ser sócia do Rio Ave, a seguir todos os jogos e, acima de tudo, a gostar mais do Rio Ave do que o que gosto hoje!