Rio Ave de Salto Alto: Isabel Bompastor

RAFC – Quem é a Isabel Bompastor?

 

IB – Acima de tudo sou mãe. Antes de ser diretora sou, e continuarei a sê-lo, sempre mãe. Mãe de uma menina que também é atleta e uma segunda mãe para as meninas todas.

E como se pode calcular não é fácil. Mulher é um bicho difícil, são mais sentimentais, mais explosivas e, muitas vezes, temos de falar com elas com alguma gravidade, mas sempre com um sentido de orientação de uma mãe. E esse é o meu principal papel.

 

RAFC – É possível dizer que dentro do clube a Isabel é alguém que toma conta desta equipa?

 

IB – Sim, tomo conta de 19 meninas, mas algumas não deixam. Sem querer dividir a equipa é natural que tendo atletas com 15, 16 anos, outras perto dos 30, e uma com 39, quase 40, nem todas olhem para mim da mesma forma. Mas procuro ser uma segunda mãe para todas elas.

Depois, a minha relação com as meninas já teve várias fases. Sinto que no princípio, quando nos conhecemos, elas estavam mais desconfiadas. Agora já me conhecem, estão comigo há mais de um ano e não me temem como inicialmente, sinto que, hoje, me respeitam mais do que aquilo que temem.

 

RAFC – Como foi esse processo?

 

IB – O processo ainda decorre. Elas, para mim, são como uns grãozinhos de areia que eu fui conhecendo. A partir daí fui tentando perceber quem era aquela menina, ou aquela senhora e tentar levá-las para um caminho só: dignificar o clube, dignificar o bom nome delas, pois elas é que são as estrelas, e criar uma ética educacional dentro da equipa.

Eu faço questão que elas funcionem como equipa fora do campo, com ou sem emblema ao peito. Um exemplo disto está numa situação muito simples, quando começamos, as jogadoras não se cumprimentavam, interagiam pouco, e essa não era a família que eu desejava para esta equipa. Eu sempre lhes disse que queria criar uma família e consegui instituir pelo menos um toque de mão entre todas. Esse para mim foi o primeiro sinal verde. Hoje, cumprimentamo-nos, despedimo-nos e, sempre que possível, jantamos juntas no fim de cada jogo.

Como disse, é um processo que ainda corre e no qual eu também estou a aprender. Eu desconhecia o futsal, desconhecia quem estava à minha frente e por isso estou a conhecer tudo isso, e a conhecer-me a mim própria neste contexto.

 

RAFC – A Isabel está a cumprir o primeiro mandato no clube…

 

IB – Não lhe chame mandato, eu assinei um livro de honra o ano passado e segui este rumo. Honestamente, já pus em causa sair, porque dá realmente muito trabalho e muitos aborrecimentos, mas garanto que lutarei ao lado delas, com todas as armas possíveis.

 

RAFC – O que é que este desafio implicou na vida da Isabel?

 

IB – Muito, passo várias horas do meu dia a falar e a pensar sobre Futsal. Uma coisa eu tenho a certeza, a minha vida já não tinha monotonia, mas agora não tem mesmo, porque todos os dias eu tenho uma novidade.

E uma coisa eu prometo com o meu trabalho, que nunca ninguém terá razões para dizer mal nem da nossa equipa técnica, muito menos das meninas, que são intocáveis.

 

 

RAFC – Como avalia a relação com o Clube?

 

IB – O Clube nunca me prometeu mais do que aquilo que me está a ofertar. Esse ato de sinceridade já é para mim o suficiente. Com certeza que gostaria de ter mais, mas o Rio Ave dá o nome, dá-nos os equipamentos, dá-nos a imagem do Clube e, tem-me dado o apoio incondicional do Sr. Ilídio Gomes, que nos acompanha, que vê os jogos, que nos elogia.

Pessoalmente, gosto de ver a minha ligação ao clube enquanto cidadã e enquanto vila-condense.

 

RAFC – Sente que as jogadoras viram com naturalidade uma mulher enquanto diretora?

 

IB – Honestamente, no início elas conheciam-me como a mãe de uma atleta, pois eu própria quis que fosse assim. Comecei por incentivá-las, jogávamos num ringue e por isso a minha maior preocupação eram as lesões. E elas viam-me assim, como a mãe de uma atleta preocupada com todas.

Passado algum tempo perceberam que eu era uma mulher diferente e, hoje, acusam-me de ser uma mulher que só age com verdade e de ser intolerante à má educação. Mas sinto que não me viram de forma diferente, ou negativa, por ser uma mulher.

 

RAFC – Depois de se apresentar a si, como apresenta a equipa que lidera?

 

IB – Um grupo belíssimo, com rebeldia, meiguice, atrevimento e com muito medo. A responsabilidade de terem sido campeãs no ano passado está-lhes a pesar e têm cometido alguns erros por isso, mas mais importante do que os erros é a consciência de que estão a errar, e elas têm-na.

Temos funcionado com base me reuniões semanais em que as atletas sabem que estão a ser observadas e avaliadas por mim e pela equipa técnica.

Posto isto, e uma equipa que cumpre o objetivo de se dignificar a si mesma e ao Clube que representa.  

 

RAFC – Até onde pode chegar este grupo?

 

IB – Eu gostava muito que elas fossem campeãs. Temos orgulho no trabalho e no esforço que fazemos durante um ano, temos uma boa equipa, repleta de craques, só nos falta equilibrar a qualidade que existe nos pés com a confiança que tem de existir na mente. Assim que o conseguirmos, não tenho dúvidas que, vamos chegar longe.

 

RAFC – Como vê o momento atual do Rio Ave FC?

 

Para mim o Rio Ave será sempre o clube da minha terra e o clube do meu coração. Penso que todos nós, que integramos o Rio Ave, trabalhamos em consciência e fazemos tudo o que está ao nosso alcance para o tornar cada vez melhor. Naturalmente, temos algumas arestas a limar, mas, como sempre achei, somos um grande Clube.