Caros sócios.
Voltamos a celebrar um aniversário privados da companhia e da proximidade que sempre desejamos diariamente e principalmente em momentos que devem ser vividos em partilha.
Há um ano desejávamos que tudo o que havíamos vivido até então fosse, por esta altura, um passado difícil mas ultrapassado.
Não foi um ano fácil para ninguém. Não foi um ano fácil para as famílias, para os trabalhadores, para os sectores económicos e empresariais. Vivemos num carrossel de incertezas.
Para o Rio Ave FC foi também um ano difícil.
Mal tivemos tempo de ver terminada a última temporada, de onde saímos imbuídos num espírito de conquista e de vitória sobre tanta dificuldade, para poucos dias depois iniciarmos mais uma nova época cheia de incertezas.
Talvez esse calendário sobreposto, adicionado às incertezas, às dificuldades em adaptar o presente a mais um esforço de ter actividade sem saber em que moldes e com que meios tenha sido nefasto para todos. Para nós foi, certamente.
O certo é que foi tudo tão confuso e incerto que o futebol português ressentiu-se desses pequenos, mas grandes, pormenores. A instabilidade competitiva, a incerteza dos projectos, a fragilidade dos mesmos, um mercado também incaracterístico e a reflectir os obstáculos das restrições de circulação e financeiras acabaram por contribuir para uma época desportiva atípica para a quase totalidade (senão a totalidade) de todos os intervenientes.
O Rio Ave FC tem 82 anos de História. Muitas páginas de alegrias e de conquistas mas também de esforço, dificuldade e superação.
As vitórias e as conquistas hercúleas só surgem depois da superação. Só se vence algo depois de se conseguir ultrapassar os maiores obstáculos.
A nossa História reflecte bem isso.
O sucesso não é garantia de eternização da glória mas sim uma maior responsabilização em manter os objectivos nobres e mais além.
Nunca nos convencemos que eramos melhores e maiores do que qualquer outro dando por garantido um êxito sem esforço. Temos a perfeita consciência que todos os dias temos de dar o melhor de nós para conseguir estar ao nível da exigência máxima.
Nem sempre conseguimos. Esta temporada é o reflexo perfeito disso mesmo.
Por vezes achamos que damos o máximo, que tomamos as melhores opções, que o projecto é o mais adequado e nem sempre o conseguimos ou isso não é o suficiente.
As dificuldades que vivemos esta época deixam-nos em sobressalto e com receios que já não lembrávamos passar.
As causas, além do já reflectido, levar-nos-ão a uma reflexão que cada um terá de fazer e a uma assunção do que deveria ter feito mais e melhor.
Iniciamos uma campanha europeia de sonho. Foi benéfico, ou nem por isso? Foi um deslumbre? Elevamos em demasia as expectativas? As opções não foram as melhores? A programação? O que correu mal? Porquê?
As questões são muitas. Mas o momento é de acreditar, de lutar com todas as forças, e de união.
É sempre mais fácil desistir ou ter uma memória selectiva e perene perante a dificuldade, esquecendo o que conseguimos e o que já conquistamos.
É sempre mais fácil ser consensual e partilhar nos momentos de êxito e de sucesso do que na dificuldade.
É precisamente nos nossos piores momentos que devemos ter a capacidade e a justeza de análise e acção perante o que se passa. É nos piores dias que devemos estar próximos e contribuir para a superação com a colaboração e sobretudo com o esforço de cada um.
É o momento de todos termos a consciência de que temos de dar mais e de ser melhores.
É o momento de assumirmos que muito ficou por fazer e que muito melhor deveria ter sido realizado.
É o momento de dizermos que estamos certos das nossas convicções e que vamos conseguir superar.
Se a vida fosse apenas uma sucessão de dias felizes nunca provaríamos o doce sabor de alcançar algo verdadeiramente glorioso.
É mais fácil desistir, aceitar a derrota fácil, procurar réus, levantar conjecturas e teorias justificativas do insucesso.
Difícil é substituir isso por acção e compromisso. É ter memória e acreditar.
Todos iremos mais facilmente criticar o que não foi feito ou, no nosso ponto de vista, foi mal feito.
O que fará a diferença virá daqueles que conseguem ver na dificuldade uma ocasião de superação e de união em vez de resignação, derrota e simples crítica.
Se o Rio Ave FC fosse uma Instituição de derrotados e não de pessoas e projectos corajosos, então nunca teríamos chegado onde chegamos. E só unidos iremos continuar a crescer.
Que este 82º aniversário não seja para esquecer mas sim para nos marcar profundamente como mais um obstáculo que temos de superar para sairmos mais fortes.
O que conseguimos até aqui nunca foi obra do acaso e será sempre o ponto de partida para voltar a vencer.
Neste dia de aniversário quero agradecer a todos os sócios pelo apoio, pela paciência, pela crença e deixar uma palavra de esperança de que iremos vencer cada obstáculo, não obstante as desilusões que surgiram ou surjam.
Agradecer a todos os meus colegas da direção e a todos os funcionários, colaboradores e atletas pelo trabalho abnegado realizado em favor do nosso Clube.
Que o próximo ano nos traga o sucesso e, sobretudo, o que mais desejo, que regresse o convívio com os nossos adeptos.
António da Silva Campos
Presidente do Rio Ave Futebol Clube