Monção, Taça e um sentido de humor refinado

Banhada pelo Alto Minho, no extremo Norte de Portugal, a vila de Monção ergue-se imponente, do alto das muralhas que, outrora, a defenderam de invasores castelhanos ou, sob as quais, bradou Deu-la-Deu Martins, a heroína local que, num rasgo de astúcia, mandou juntar a última farinha para fazer pães e atirá-los aos espanhóis de Castela. Surpreendidos com a fartura de mantimentos, levantaram cerco ao burgo e deixaram intacta a histórica vila.

A lenda até pode servir de inspiração aos monçanenses que, este domingo, defrontam o Rio Ave FC na 3ª Eliminatória da Taça de Portugal. Nestas andanças da prova-rainha, as lendas são como os sonhos impossíveis, mas que as há, há e, como tal, a equipa de Mário Silva deve evitar relaxamentos para não se deixar surpreender pela formação que milita nos distritais de Viana do Castelo e tornar-se parte do heroísmo dos locais.

Voltando a Monção, a vila raiana é amplamente reconhecida como capital de uma casta branca de indubitável qualidade. O alvarinho, pois claro, é dos mais nobres embaixadores da região e motivo de conversa de quem visita aquela localidade. Um branquinho? Quem nunca, mas só depois do jogo, tá certo?

Bem, com sobriedade olhemos então para Monção: situa-se entre dois fenómenos geográficos distintos, o extenso e fértil vale do rio Minho e as escarpadas montanhas, sendo no sentido transversal, cortado por uma série de rios, ribeiros e riachos, que fertilizam a sua terra e permitem a ocupação da meia encosta.

Se os vales são propícios à prática de agricultura e viticultura (aí está ele outra vez) também os terrenos de alta montanha são os ideais para a prática da pastorícia, não sendo, por isso, raros os vestígios de ocupação um pouco por todo o concelho, podendo-se encontrar, junto às margens do Minho, vários achados arqueológicos que testemunham um passado com passagem de diferentes povos por estas terras.

Monção tem cerca de 20 mil habitantes em toda a extensão do seu município, um dos mais antigos do país e a caminho dos seus 800 anos. Muitos gostariam de estar domingo, no ‘velhinho’ Manuel Lima, um estádio do tempo da 2ª Guerra Mundial, com 71 anos, carregado de história do seu Desportivo local, para celebrarem o jogo com o Rio Ave FC e receberem, quiçá, os adeptos vilacondenses com um alvarinho numa mão e uma ‘foda à Monção’ na outra…. Uh… cof, cof,  como disse?

Calma! A ‘foda à Monção’ não é nenhuma pancadaria prometida ou um palavrão inusitado. Trata-se de uma consagrada maravilha gastronómica local que nada mais é do que um belo cordeiro assado à moda de Monção, está claro. Caso para nos agarrarmos ao slogan ‘um nome ousado, um sabor autêntico’.

Os monçanenses são divertidos, está visto, mas os rioavistas que não se deixem levar com cantigas e levem aquela tenacidade bem caxineira de quem desbrava o mar e defronta a natureza para conseguir o seu sustento. Dêem início a uma caminhada épica na rainha das rainhas e terminem o domingo, na companhia do alvarinho, da foda e a desbastarem uma ‘barriguinha de freira’…. Mau, outra vez?!… É só um docinho, para rematar a emo(n)ção de vez.

Desportivo de Monção vs Rio Ave FC! Um duelo reeditado mais de 30 anos depois, em Monção, na 3ª Eliminatória da Taça de Portugal. No último duelo, venceram os rioavistas por três ‘Roscas’ (ora pesquise lá esta) a zero, em 1976. Rezam as crónicas à época que a freira não se chateou e ninguém levou ‘foda’ para casa.

Venha a Taça, pois a festa, infelizmente, terá de ser feita em casa!

Proteja-se e volte a ligar a telefonia. As nossas rádios também fazem parte da história da prova-rainha. Até já, Monção.