A incrível conquista de Istambul

Das ruínas de Bizâncio e Constantinopla nasceu Istambul, a cidade dividida pelo Bósforo e pertença de dois continentes, destinada a cair às mãos de guerreiros que formam o império verde e branco do ocidente.

Numa eliminatória que já se esperava difícil para o exército de Mário Silva, o Besiktas, pelo historial, pela experiência europeia, era adversário respeitado mas não temido. O presidente António Campos deu o mote à partida, Carlos Mané alinhou na ideia e Augusto Gama reforçou a convicção: este seria um combate equilibrado, capaz de cair para qualquer uma das trincheiras. Assim foi.

Cedo se percebeu que o Rio Ave FC tinha tudo para fazer desta uma noite épica. As armas equilibravam-se na hora do ataque à baliza.

A equipa turca desferiu o primeiro golpe. 15 minutos, a defesa rioavista cedeu tempo e espaço em zona proibitiva para um cruzamento que encontrou na cabeça de Guven Yalcin desvio fatal.

Sem esmorecerem, as tropas lusas assumiram o papel de conquistadores e desbravaram por terreno inimigo, dando respostas concludentes. Carlos Mané, numa delas, tentou visar a baliza mas o remate saiu à figura de Yuvakuran. Do outro lado, Kieszek era um último guardião incansável, negando golo certo a Dorukhan Tokoz, que ainda viu a bola bater no poste.

Período de tréguas. Mário Silva sentia que a equipa podia mais, que a vitória era possível, e deu injecção de moral para uma segunda parte onde o Rio Ave FC chamou a si a bola, encostou o Besiktas ao último reduto e galvanizou-se na expectativa do golo.

Bruno Moreira, na linha da frente do combate, fez as honras da investida e aos 57 minutos deixou o adversário combalido. Cabeceamento perigosíssimo só travado pela trave da baliza turca.

Era hora de refrescar a infantaria. O treinador rioavista trocou Piazon por Diego Lopes e a equipa portuguesa mantinha a toada sobre os turcos. Francisco Geraldes, numa jogada de boa combinação, terminou com um remate em esforço que ameaçou a defensiva do Besiktas.

Ainda não satisfeito, Mário Silva apostou em Meshino e Jambor, arriscando com a saída de Ivo Pinto e Tarantini.

Incrível o que se sentia, por estes momentos, no Vodafone Park. O Rio Ave FC estava completamente por cima do jogo, esmagando as linhas turcas, sentindo que o seu momento aí vinha. E veio!

Aos 85 minutos, num golpe de excelência, no corredor, de Carlos Mané, a bola saiu com olhinhos para a cabeça do letal Bruno Moreira fazer o empate! Sismo em Istambul. Os lusos desafiavam as odds e confirmavam o que já sabíamos: o grupo de guerreiros portugueses funciona como equipa, como exército, fazendo das fraquezas forças para seguir num caminho de superação! O sonho europeu continuava vivo.

Do Besiktas, uma última tentativa evitada pelo fantástico Pawel Kieszek, que aos pés de Mensah fez defesa estrondosa, confirmando a necessidade de prolongamento.

Daniel Siebert, o alemão implacável chamado a mediar a contenda, apitou então para o final dos 90 minutos. Momentos de incerteza no Vodafone Park. O período extra adivinhava-se combativo.

A batalha vai longa, que entre agora a melodia de Ramin Djawadi que isto é digno de trilha de Hollywood.

Gabrielzinho foi o último soldado lançado para o combate, e o que perde o camisola 70 do Rio Ave FC. Excelente a recuperar uma bola que parecia perdida, brilhante na forma como encontrou espaço na área, terrível como não viu Bruno Moreira ao lado pronto a facturar, preferindo o remate que saiu bloqueado. Ataque de nervos nos lusos, ansiedade nos turcos, tic tac, a música cresce, a adrenalina rebenta. Mas que perdida Carlos Mané!! Cabeceamento de cima para baixo a sobrevoar o guarda-redes e a bater na barra antes de sair. Novo ataque? Mané no remateee! NÃO! Que defesa monstruosa do guardião do Besiktas. Impossível!!

Só dá Rio Ave FC no Vodafone Park. Que gigantes estes meninos.

Penáltis! Essa terrível lotaria, normalmente injusta para quem merecia vencer.

A emoção está no auge, ao rubro. Bruno Moreira e Santos não falham para o Rio Ave FC. Mensah e Gokhan Tore também não para o Besiktas. Mas chega Welinton…. FALHOU! Remate por cima da baliza de Kieszek. Veio Jambor e meteu-a lá dentro. Defende Kieszek, tu consegues guardião!! Larin’s no remateeeee… DEFENDEU! Herói em Istambul. Que golpada!

Adversário ainda respira, já ninguém aguenta, mata Matheus…. mata Matheus… e matou, está lá dentrooo!! Matheus Reis marca o penálti decisivo e o Rio Ave FC está no Play-Off da Liga Europa 2020/2021. GIGANTES!

Festa no relvado, um verdadeiro campo de batalha onde os portugueses saem como justos vencedores, para gáudio dos que assistiram, dos que merecem, da razão de tanta vontade de vencer e de orgulhar.

Istambul caiu, aos pés de Vila do Conde, do Rio Ave FC e de Portugal. Que venha Milão e o seu império.

Jogo no Vodafone Park, em Istambul (Turquia)
Árbitro: Daniel Siebert (Alemanha)
Ao intervalo: 1-0
Marcadores: Guvan Yalcin (15) e Bruno Moreira (85). Converteram as grandes penalidades, do Besiktas, Mensah e Gokhan Tore, do Rio Ave FC, Bruno Moreira, Santos, Jambor e Matheus Reis. Falham as grandes penalidades, do Besiktas, Welinton e Larin’s.
Acção disciplinar: cartão amarelo a Santos, Tarantini, Filipe Augusto, Francisco Geraldes e Bruno Moreira, do Rio Ave FC, Necip Uysal, Montero, Ozyakup, Larin e Mensah, do Besiktas.

Besiktas JK 1 (2)
Yuvakuran, Uysal, Welinton, Montero, Yilmaz, Tokoz, Ozyakup, Lens, Ljajic, Boyd e Yalcin
Substituições: Yalcin por Larin (64), Ljajic por Mensah (72), Boyd por Tore (84) e Lens por Hasic (101).
Suplentes não utilizados: Destanoglu, Vida e Kartal Yilmaz.
Treinador: Murat Sahin

Rio Ave FC 1 (4)
Kieszek, Ivo Pinto, Toni Borevkovic, Santos, Matheus Reis, Filipe Augusto, Tarantini, Geraldes, Piazon, Carlos Mané e Bruno Moreira
Substituições: Piazon por Diego Lopes (69), Tarantini por Jambor (79), Ivo Pinto por Meshino (79) e Geraldes por Gabrielzinho (97).
Suplentes não utilizados: Leo Vieira, Nelson Monte e Pedro Amaral
Treinador: Mário Silva